Estudos da moral moderna (Karl-Otto Apel).

 


Maria Garcia é Professora de Direito Constitucional da graduação e Direito Educacional e Constitucional da Pós-Graduação da PUC/SP. Procuradora do Estado de São Paulo aposentada. Ex-assessora Jurídica da USP. Membro do Instituto dos Advogados de São Paulo - IASP e do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional - IBDC.


 

Uma linha filosófica se orienta, atualmente, para os conflitos da nossa época e a exigência de uma orientação ético-política fundamental. É esse o título de uma das conferências mais atuais de Karl-Otto Apel e é ele o filósofo de uma das filosofias transcendentais contemporâneas.

Trata-se de uma discussão, que o filósofo levanta, sobre a possibilidade mesma de “algo como uma ética da responsabilidade solidária.”

Diz Apel: “a paradoxalidade dessa situação se caracteriza através do seguinte dilema: de um lado, a necessidade de uma ética intersubjetivamente vinculatória, de responsabilidade solidária da humanidade, diante das conseqüências de atividades e conflitos humanos, nunca foi tão urgente como nos dias atuais, e isso em função do pavoroso aumento do risco decorrente de todas as atividades e conflitos humanos, devido ao espantoso potencial técnico da ciência. De outro lado, parece que a fundamentação racional de uma ética intersubjetivamente válida jamais foi tão difícil quanto hoje em dia, uma vez que a ciência moderna (science) pré-ocupou o conceito de fundamentação racional, intersubjetivamente válida, no sentido da neutralidade valorativa; por causa disso, todas as formações teóricas não isentas de valoração parecem, a partir deste parâmetro, se meras ideologias. Assim – conclui – precisamente, uma ética racional de superação dos conflitos parece ser impossível, já que a ética aparece, desde logo, apenas como possível ideologia de um dos partidos conflitantes.

E este é o dilema que Apel passa a analisar, nos seus dois aspectos: a exigência de uma ética de responsabilidade solidária em face da crise ecológica da civilização técnico-científica e a aparente impossibilidade racional de uma ética de responsabilidade solidária, intersubjetivamente válida, ou seja, de efetividade entre todos os indivíduos.

Essa preocupação e a sua obra em prol dessas idéias básicas representa um momento maior da filosofia contemporânea.